10 outubro 2005

O Rescaldo

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Apenas uma pequenas notas que me ficaram do dia e da noite de ontem.

  • nem por isso houve maior afluência às urnas; os dados apurados até agora apontam para um decréscimo da abstenção de menos de 1% (talvez a confusão se tenha gerado por causa das grandes filas que se formaram para votar mas, pelo que vi na minha freguesia, isso só se verificou nas mesas de voto com os números mais baixos, por corresponderem aos idosos - que demoram muito mais tempo a votar, que têm dificuldades de locomoção, etc.) mas admito que, na conjuntura actual, o valor da abstenção é surpreendentemente baixo.
  • a avaria do sistema informático do STAPE; não sei se ficou a dever-se ao excesso de informação em simultâneo ou se foi uma avaria de outro tipo, mas provocou uma noite completamente aparvalhada em todas as televisões.
  • a atrapalhação dos directos, que leva os repórteres a dizer disparates a granel, como "abonativa" em vez de "abonatória".
  • a cabeça da Bárbara Guimarães a acenar de aprovação a cada frase dita pelo marido, como se fosse a mãe a ouvir uma palestra do filho, depois de a própria a ter ensaiado com ele.
  • as vitórias de Fátima Felgueiras, Isaltino de Morais e Valentim Loureiro; para quem tinha dúvidas, ficou confirmado: existem mesmo portugueses de segunda.
  • o discurso de Valentim Loureiro (que só ouvi hoje de manhã - porque ontem, à custa de um "zapping" eficaz, consegui evitar vários discursos) é, pelo menos na parte que toca a Marques Mendes, de uma boçalidade consternante.
  • a conclusão da Sic Notícias de que o PS perdeu para o PSD Câmaras que não tinha à partida.
  • aquele momento da chegada de um candidato vencedor com tal aparato que parecia reflectir a conquista da Câmara de Paris ou de Berlim; afinal, era o vencedor em Amarante (recordo que em Amarante votaram pouco mais de 35 mil pessoas - só na zona de Benfica votaram mais).
  • o uso e abuso nos cânticos de vitória daquela música do filme "A Golpada" e que, nos dias de hoje, é normalmente usada pelos adeptos do Benfica (vocês sabem: "...ninguém pára o Benfica, ninguém pára o Benfica, ninguém pára o Benfica, oh eh oh").

Enfim, uma pobreza franciscana. Mas é o poder que temos.

Só para reflexão, deixo-vos o seguinte exercício. O PSD afirmou ontem à noite, por várias vezes, que tinha, espalhados pelo país, cerca de 48 000 candidatos (Câmaras Municipais, Assembleias Municipais e Assembleias de Freguesia). Multipliquem isso por cinco (PS, PSD, PP, PCP e BE) e obtêm cerca de um quarto de milhão de pessoas.

E a pergunta é: alguém acredita que em Portugal existem tantas pessoas com o juízo a meio?

E, se existirem, estão todos nas autarquias?

É, não é? É muito esquisito. Estamos bem entregues.