18 novembro 2005

As canções da minha vida - 3



Esta é uma daquelas que nos entra à primeira e nunca mais sai.

De resto, parece que voltou a estar na moda. Já se ouve novamente com frequência na Rádio.

O que há de verdadeiramente extraordinário acerca desta música é que, no festival da Canção de 1971 ficou em 3º lugar com apenas 42 dos 270 pontos em disputa (cada um dos 18 distritos tinha à sua disposição um total de 15 pontos para distribuir livremente pelas 9 canções).

A canção vencedora nesse ano foi "Menina" do mesmo autor (interpretada por Tonicha) e a canção classificada em segundo lugar foi "Flor sem tempo" (interpretada por Paulo de Carvalho).

Já viram isto? Não me lembro de nenhuma canção do Festival dos últimos dez anos, e do de 1971 são "só" aquelas três.


CAVALO À SOLTA

Minha laranja amarga e doce, meu poema,
feito de gomos de saudade, minha pena
pesada e leve, secreta e pura,
minha passagem para o breve,
breve instante da loucura.

Minha ousadia, meu galope, minha rédea,
meu potro doido, minha chama, minha réstea
de luz intensa, de voz aberta,
minha denúncia do que pensa,
do que sente a gente certa.

Em ti respiro, em ti eu provo
por ti consigo esta força que de novo
em ti persigo, em ti percorro,
cavalo à solta pela margem do teu corpo.

Minha alegria, minha amargura,
minha coragem de correr contra a ternura.

Minha laranja amarga e doce, minha espada,
poema feito de dois gumes: tudo ou nada.
Por ti renego, por ti aceito
este corcel que não sossego
à desfilada no meu peito.

Por isso digo: canção, castigo,
amêndoa, travo, corpo, alma, amante, amigo.
Por isso canto, por isso digo:
alpendre, casa, cama arca do meu trigo.

Minha alegria, minha amargura,
minha coragem de correr contra a ternura.
Minha ousadia, minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.



Autor: José Carlos Ary dos Santos
Compositor e Intérprete: Fernado Tordo