30 novembro 2005

As canções da minha vida - 5


Mais uma daquelas que me lembro de cantar de ponta a ponta pelos cantos. A canção é de 1973 e representa a música de intervenção no seu melhor (nem se percebe muito bem como a censura a deixou passar).

TOURADA

Não importa sol ou sombra,
camarotes ou barreiras,
toureamos ombro a ombro as feras.

Ninguém nos leva ao engano,
toureamos mano a mano,
só nos podem causar dano esperas.

Entram guizos, chocas e capotes e mantilhas pretas.
Entram espadas, chifres e derrotes e alguns poetas.
Entram bravos, cravos e dichotes, porque tudo o mais são tretas.

Entram vacas depois dos forcados que não pegam nada.
Soam Bravos e Olés dos nabos que não pagam nada.
E só ficam os peões de brega cuja profissão não pega.

Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera,
estamos na Praça da Primavera.

Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza graça.

Entram velhas doidas e turistas, entram excursões.
Entram benefícios e cronistas, entram aldrabões.
Entram marialvas e coristas, entram galifões de crista.

Entram cavaleiros à garupa do seu heroísmo.
Entra aquela música maluca do passodoblismo.
Entra a aficionada e a caduca mais o snobismo... e cismo.

Entram empresários moralistas, entram frustrações.
Entram antiquários e fadistas e contradições.
E entra muito dólar, muita gente que dá lucro aos milhões.

E diz o Inteligente que acabaram as canções.



Autor: José Carlos Ary dos Santos
Compositor e Intérprete: Fernando Tordo