06 dezembro 2005

Manuel Alegre 0 - Cavaco Silva 0


Vocês viram o debate ontem à noite?

Conseguiram resistir ao tédio?

Quando se soube que as televisões tinham chegado a um acordo sobre o formato dos debates, já se desconfiava que não vinha de lá nada de bom.

Qual é o português que está disposto a ver um debate sem interrupções, sem insultos, sem acusações, críticas, enfim, sem a possibilidade de, a qualquer momento, a coisa degenerar em chapada?

Que saudades do debate de Carmona com Carrilho.

Este não teve gracinha nenhuma. Foram duas entrevistas individuais em simultâneo. Ainda assim, vou tentar justificar o empate a zero referido no título do post.

As regras para este campeonato são as seguintes: cada candidato pode marcar até quatro "golos": presença física, presença psicológica, marketing e política.

E neste encontro a avaliação foi a seguinte:

  • Presença física: Cavaco Silva está cada vez mais parecido com um zombie e já se está a tornar insuportável olhar para ele enquanto fala, ou melhor, enquanto balbucia, com uma péssima dicção e uma boca completamente torcida, o que quer que seja. Manuel Alegre faz uma estreia na utilização de gel no cabelo o que, para um poeta, não fica nada bem. Gesticula muito e bem, mas de vez em quando, enquanto fala, olha para o adversário como que procurando alguma reacção (as reacções faciais de Cavaco estão nível das da estátua do Marquês de Pombal). Resultado: 0 para ambos.
  • Presença psicológica: avalio aqui a capacidade de improviso e a preparação psicológica para o debate. Como estão os dois à frente nas sondagens, não era de esperar qualquer milagre, e o formato do programa (em muitos casos, nem sequer havia resposta dos dois candidatos à mesma pergunta) também não ajudou. Resultado: 0 para ambos.
  • Marketing: nenhum dos candidatos conseguiu vender a sua imagem (e aqui esperava talvez um pouco mais de Manuel Alegre, o português que mais próximo está de falar como o Ary). Resultado: 0 para ambos.
  • Política: todas as respostas eram previsíveis, ninguém fugiu ao que nós já sabíamos que iria ser dito, e até Ricardo Costa (talvez por força do formato definido) fugiu das perguntas que só ele sabe fazer e que provocam o pânico (Constança Cunha e Sá também o consegue, só que ele é muito mais educado). Nada de novo neste debate. Resultado: 0 para ambos.
Espera-se que Mário Soares (useiro e vezeiro a ignorar as regras - vejam-se os casos das assembleias de voto) possa nos debates soltar um "não diga disparates", um "o senhor é um aldrabão", etc., e que Francisco Louçã solte, aqui e ali, um "o senhor é um terrorista político", um "o senhor é um inimputável" ou qualquer coisa do género, para ver se isto anima em vez de nos arriscarmos a assistir, com bocejos, muitos bocejos, a dez empates a zero neste campeonato que se adivinha longo.