21 março 2006

Dia da Poesia

Comemora-se hoje o Dia da Poesia e não queria deixar de o assinalar aqui com um dos mais belos poemas que conheço.

Tinha intenção de o usar durante a campanha eleitoral, por ser de Manuel Alegre, e de o adulterar, simulando textos alternativos supostamente escritos por cada um dos outros candidatos, mas a inspiração falhou-me na altura certa. Paciência. Mas aqui fica.

Com mãos se faz a paz, se faz a guerra
Com mãos tudo se faz e se desfaz
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedra estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.


Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967