30 novembro 2005

As canções da minha vida - 5


Mais uma daquelas que me lembro de cantar de ponta a ponta pelos cantos. A canção é de 1973 e representa a música de intervenção no seu melhor (nem se percebe muito bem como a censura a deixou passar).

TOURADA

Não importa sol ou sombra,
camarotes ou barreiras,
toureamos ombro a ombro as feras.

Ninguém nos leva ao engano,
toureamos mano a mano,
só nos podem causar dano esperas.

Entram guizos, chocas e capotes e mantilhas pretas.
Entram espadas, chifres e derrotes e alguns poetas.
Entram bravos, cravos e dichotes, porque tudo o mais são tretas.

Entram vacas depois dos forcados que não pegam nada.
Soam Bravos e Olés dos nabos que não pagam nada.
E só ficam os peões de brega cuja profissão não pega.

Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera,
estamos na Praça da Primavera.

Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza graça.

Entram velhas doidas e turistas, entram excursões.
Entram benefícios e cronistas, entram aldrabões.
Entram marialvas e coristas, entram galifões de crista.

Entram cavaleiros à garupa do seu heroísmo.
Entra aquela música maluca do passodoblismo.
Entra a aficionada e a caduca mais o snobismo... e cismo.

Entram empresários moralistas, entram frustrações.
Entram antiquários e fadistas e contradições.
E entra muito dólar, muita gente que dá lucro aos milhões.

E diz o Inteligente que acabaram as canções.



Autor: José Carlos Ary dos Santos
Compositor e Intérprete: Fernando Tordo

Pura Magia


Não preciso de vos dizer que este homem é do outro mundo.

Mão amiga fez chegar ao meu mail o link para um vídeo deste jogador.

Para quem possa ficar renitente em visitar o site, aqui fica a sinopse:
  • Ronaldinho recebe umas chuteiras novas para testar
  • Sentado na relva, calça as chuteiras
  • Depois de as calçar, começa a dar toques com uma bola
  • De fora da área, Ronaldinho, depois de uma série de toques, remata de primeira contra a trave da baliza, e recebe de novo a bola no peito, continuando a dar toques
  • Para que não restem dúvidas, repete o processo mais três vezes
  • Ronaldinho aprova as chuteiras
Repito, este homem é do outro mundo. Confirmem aqui

29 novembro 2005

Benfica 0 - Belenenses 0


Acho que o treinador do Benfica está a tentar fazer passar uma mensagem.

E a mensagem é: "Vejam, jogue quem jogar, o resultado é sempre o mesmo".

E até não estaria longe da verdade se não se desse o caso de a mesma equipa ter conquistado o campeonato na época anterior.

No caso deste jogo, até não foi tão mau como isso. O Belenenses jogou excessivamente fechado na defesa, o que não é surpreendente, já que costuma fazê-lo na Luz com sucesso.

O Benfica atacou muito, nem atacou mal, mas a finalização esteve deficiente (sim, a mim não me apanham a dizer que foi azar, foi mesmo azelhice).

Qualquer paspalhão de meia idade que ainda se atreva a dar uns toques na bola em qualquer campo ou praia disponível sabe muito bem o que acontece a cada dez remates que faz: um vai à baliza, dois vão ao lado, três vão por cima e os restantes quatro nem chegam a ser remates.

O que não se compreende muito bem é porque é que a um jogador profissional, com o salário que aufere e os treinos que faz, acontece exactamente o mesmo (com a agravante de, naquele remate que vai à baliza em cada dez, o Marco Aurélio estar pronto a defendê-lo).

A necessidade de vitórias (e de exibições conseguidas) vai-se agudizando e não há tempo para esperar pela recuperação dos lesionados. É preciso começar a jogar bem já.

É que já só faltam 22 jornadas para sermos bi-campeões.

Ó Cristo, anda cá abaixo ver isto!


Não vejo que mal faz a presença de um ou mais crucifixos nas nossas escolas (é claro que, sendo católico, não consigo talvez o distanciamento necessário para avaliar a coisa).

Mas também não há nada de mal na ausência do crucifixo.

Não venham é atirar para a discussão com os argumentos que já se têm ouvido: ah! e tal, que é traumatizante, que é uma violência para quem não professa, etc.

Talvez fosse bem mais traumatizante (e isto para um povo inteiro) que as escolas se mantivessem abertas no Dia de Todos os Santos, no Dia do Corpo de Deus e no Dia da Imaculada Conceição.

Talvez fosse bem mais traumatizante que o Belenenses fosse obrigado a mudar de símbolo (sim, porque um qualquer não cristão quer fazer-se sócio do clube e não pode).

Talvez fosse bem mais traumatizante ter que retirar o Santuário do Cristo Rei do local onde se encontra.

Talvez fosse bem mais traumatizante ter que recolher todas as Comendas que já foram distribuidas pelos nossos Presidentes da República, porque ostentam a Cruz de Cristo (olha, podiam começar, por exemplo, pela dos U2 - havia de ser bonito tentar explicar-lhes).

Cá para mim, anda tudo maluco. Fala-se de crise, mas se a crise fosse como se diz que é, as pessoas passavam mais a tempo a discutir assuntos sérios do que assuntos que não são assuntos.

28 novembro 2005

Um dia normal para uma família pouco normal - Uma tragédia em 4 Actos


A acção passa-se no final da tarde de sexta-feira passada.

1.º Acto - Estou no colégio à espera do meu filho (tem agora 11 anos e frequenta o 6º Ano). Vem a correr para mim com a nota de um teste de Português. Trata-se de um ditado com quase duas páginas que acaba de provocar estragos importantes na turma (chega a haver gente com 48 erros num texto que nem tem palavras muito difíceis). Diz-me alegremente que só teve um erro. Até aí tudo bem. Descobre-se logo a seguir que o erro consistiu em não colocar o til na palavra "João". O mais grave é que João é o nome dele.

2.º Acto - A mãe entra no carro. O filho conta-lhe a história. O pai vai gozando a coisa. A bomba cai. A mãe diz: "Olha, filho, muito pior do que isso foi o erro que o papá escreveu no Blog: em vez de 'ontem à noite' escreveu 'ontem há noite'".

3.º Acto - A mãe diz para o pai: "Tive vontade de entrar nos comentários e escrever 'Hoje não dormes em casa'".

4.º Acto (o mais destrutivo) - O filho diz: "Não, mãe, devias escrever 'oje não dormes em casa'".

Fazer o quê?

25 novembro 2005

Masatão...

O Bibi é meu vizinho!

Quer dizer, não é vizinhovizinhovizinho... é vizinho!

Bem vistas as coisas, eu moro numa ponta do Bairro (que nem se chama Bairro Santos, mas Bairro da Bélgica) e ele mora na outra ponta, numa zona de habitação social que, muito adequadamente, começa onde acabam o Hotel Metropolitan e o Edifício da Bolsa (mesmo ao lado da sede do PCP).

Hoje de manhã, quando saía do café, era só carros de reportagem da televisão e até um helicóptero sobrevoou o bairro. Pelo menos, devemos estar mais seguros.

Na Rádio Comercial, a locutora do noticiário chamou ao bairro "Bairro dos Santos". Nunca tinha ouvido este nome, mas se calhar só passou a chamar-se assim desde que o Bibi voltou (desculpei a rapariga, quanto mais não seja porque, mais à frente no noticiário, quando falava das baixíssimas temperaturas que se fazem sentir no interior norte do país se saiu com uma que eu nunca tinha ouvido: "está um tempo excelente para ficar em casa a ouvir a alcatifa crescer").

Ora, como ainda só foram ouvidas 100 das 700 testemunhas do julgamento, e as sessões prometem multiplicar-se, receio bem que este aparato à volta do mui recatado bairro em que vivo venha a tornar-se uma constante.

Será que a vida de Bibi corre perigo? Creio bem que sim. Por um lado, se ele tiver a possibilidade de implicar alguém importante cujo nome ainda não tenha sido mencionado, pode haver um atentado contra a vida de Bibi. Por outro, se se verificar que é tudo palha, acredito que muito jornalista ou advogado de vítimas ou comentador televisivo, após perceber as figurinhas que andou a fazer, possa também tentar molhar a sopa.

Em qualquer dos casos, só pedia que se despachassem: eu queria recuperar o sossego do bairro antes do Natal.

24 novembro 2005

Momento Monty Python - 4



Monty Python and the Holy Grail

Arthur: Old woman.
Man: (turning around) Man.
Arthur: Man, sorry... what knight lives in that castle over there?
Man: I'm thirty-seven.
Arthur: (surprised) What?
Man: I'm thirty-seven. I'm not old.
Arthur: Well, I can't just call you "man".
Man: You could say "Dennis".
Arthur: I didn't know you were called Dennis.
Man: Well, you didn't bother to find out, did you?
Arthur: I did say sorry about the "old woman", but from the behind you looked...
Man: Well I object to your... you automatically treat me like an inferior.
Arthur: Well, I "am" king.
Man: Oh, king, eh? Very nice. And how'd you get that, eh? By exploiting the workers. By 'angin' out to outdated imperialist dogma which perpetuates the economic and social differences in our society. If there's ever going to be any progress...
Woman: Dennis. There's some lovely filth down 'ere. (noticing Arthur) Oh, 'ow'd'ja do?
Arthur: How do you do, good lady? I am Arthur, king of the Britons. Whose castle is that?
Woman: King of the who?
Arthur: King of the Britons.
Woman: Who are the Britons?
Arthur: Well, we all are. We are all Britons and I am your king.
Woman: I didn't know we had a king. I thought we were autonomous collective.
Man: You're fooling yourself. We're living in a dictatorship. A self-perpetuating autocracy in which the working classes...
Woman: There you go, bringing class into it again.
Man: That's what it's all about. If only people would...
Arthur: Please, please, good people, I am in haste. WHO lives in that castle?
Woman: No one lives there.
Arthur: Then who is your Lord?
Woman: We don't have a Lord.
Arthur: (surprised) What?
Man: I told you. We're an anarcho-syndicalist commune! We're taking turns to act as a sort of executive-officer-for-the-week.
Arthur: (uninterested) Yes...
Man: But all the decisions of that officer have to be ratified at a special bi-weekly meeting...
Arthur: (disturbed) Yes, I see...
Man: ... by a simple majority, in the case of purely internal affairs...
Arthur: (mad) Be quiet.
Man: ... by a two-thirds majority, in the case of more major...
Arthur: BE QUIET! I order you to be quiet!
Woman: "Order", eh? Who does he think he is?
Arthur: I am your king.
Woman: Well, I didn't vote for you.
Arthur: You don't vote for kings.
Woman: Well, how did you become king then?
Arthur: (holy music) The Lady of the Lake (her arm clad in the purest shimmering samite) held aloft Excalibur from the bottom of the water, signifying by divine providence that I, Arthur, was to carry Excalibur. THAT is why I am your king.
Man: Listen: strange women lying in ponds distributing swords is no basis for a system of government. Supreme executive power derives from a mandate from the masses, not from some... aquatic ceremony.
Arthur: BE QUIET!
Man: You can't expect to have supreme executive power juste 'cause some watery tart threw a sword on you.
Arthur: (grabbing the man) Shut up.
Man: I mean, if I went 'round saying I was an Emperor, just because some moistened bink had lobbed a cimitar at me, they'd put me away!
Arthur: (throwing the man down) Shut up, will you, SHUT UP!
Man: Aha! Now we see the violence inherent in the system!
Arthur: SHUT UP!
Man: (yelling to others) Come and see the violence inherent in the system. Help! Help! I'm being repressed!
Arthur: (letting go and walking away) Bloody peasant!
Man: Oh, what a giveaway! Did'j'ear that, did'j'ear that, eh? That's what I'm all about! Did you see him repressing me? You saw it, didn't you?

23 novembro 2005

Lille 0 - Benfica 0


Para quem não gosta de futebol as minhas desculpas desde já, porque este post se arrisca a ser o mais comprido que já escrevi sobre o Benfica. Há tanto para dizer que nem sei bem por onde começar. Mas vamos lá por partes:

  1. Não deixa de ser refrescante ver uma equipa que é campeã nacional entrar em campo (seja ele qual for - até mesmo o batatal a que chamam Estádio de França) com nada mais nada menos do que quatro (4) defesas centrais (Luisão, Anderson, Ricardo Rocha e Alcides); estou mesmo convencido de que, enquanto escrevo estas linhas, a equipa técnica do Benfica já está a estudar o plantel da equipa B e dos iniciados com o objectivo de entrar para o Guiness ao apresentar contra o Belenenses um onze titular composto por Rui Nereu e dez defesas centrais;
  2. Houve grande alegria ontem à noite por esse país fora. Quantos e quantos treinadores e jogadores dos mais variados escalões (do Arrentela ao Cascalheira, passando pelo Alguidares de Baixo e os Ases não sei bem do quê) terão, legitimamente pensado: "Que diabo, afinal eu também tenho qualidade para jogar a Liga dos Campeões". E quem pode censurá-los? Se o campeão nacional do país que é vice-campeão europeu se dá ao luxo de jogar contra uma equipa medíocre fazendo um (não é gralha, é mesmo um) remate para golo no jogo inteiro (e nos últimos trinta segundos de jogo), quem pode censurar qualquer coxo por pensar que joga melhor do que aquilo?;
  3. A RTP enganou-se na transmissão. Após o jogo, o treinador do Benfica (que só fez uma substituição - Mantorras por Miccoli, devido a lesão) afirmou que não substituiu mais ninguém porque a equipa estava a cumprir. Senhora Dona RTP, veja lá isso. Estive eu a ver o jogo durante tanto tempo, e afinal a equipa estava a cumprir (não sei onde, mas acho que deviam ter transmitido o outro jogo, aquele em que eles estavam a cumprir);
  4. Também o nosso presidente se saiu com mais uma daquelas pérolas: "O Glorioso está... em chama". Não, senhor presidente, o Glorioso está é em chamas, e se os bombeiros não vêm depressa, vamos ficar todos esturricados;
  5. Mas não se ficou por aqui o nosso presidente. Continuou dizendo que "o Benfica começa a incomodar muita gente". Estaria isso tudo muito bem se não se desse o caso de 98,7% dos incomodados serem os adeptos do clube;
  6. Mas também houve coisas boas. Para já, a lotação esgotada de um estádio tão grande, só possível pela presença em massa de portugueses que, a certa altura, me fizeram pensar que o jogo era em Lisboa;
  7. Nota muito positiva para o bom ambiente dentro da equipa. É preciso ser muito amigo do seu amigo para vir o Luisão dizer depois do jogo que o melhor em campo foi o Beto.
Posto isto, e reafirmando aqui o que já escrevi há tempos (ou seja: estou-me nas tintas para a Liga dos Campeões, quero é ser campeão nacional), não tenho dúvidas de que a coisa vai melhorar e o Benfica vai ser bi-campeão.

Quanto à Liga, e se as contas não me falham, a situação é a seguinte: basta ganhar ao Manchester United. Pode parecer excessivamente difícil, mas talvez não o seja, já que as melhores equipas também puxam pelo melhor dos adversários e porque, convém não esquecer, a pressão também está sobre o Manchester, que pode muito bem ficar em último lugar no grupo.

Se o Benfica ganhar é apurado em 2º lugar no grupo (podendo o 1º lugar ser do Villareal ou do Lille).

Se o Benfica empatar ou perder é eliminado, excepto se empatar e o Villareal ganhar ao Lille, caso em que o Benfica será 3º e passará à Taça UEFA (a minha solução preferida, apeser de a eliminação não me incomodar por aí além).

Vamos ver no que isto dá.

22 novembro 2005

As canções da minha vida - 4


Esta é uma canção sempre actual e que tem o condão de, uma vez ouvida pela manhã, não sair da cabeça durante o dia inteiro.

A FESTA DA VIDA

Que venha o sol, o vinho, as flores
Marés, canções de todas as cores
Guerras esquecidas por amores

Que venham já trazendo abraços
Vistam sorrisos de palhaços
Esqueçam tristezas e cansaços

Que tragam todos os festejos
E ninguém se esqueça de beijos
Que tragam prendas de alegria
E a festa dure até ser dia

Que não se privem nas despesas
Afastem todas as tristezas
Pão, vinho e rosas sobre as mesas

Que tragam cobertores ou mantas
E o vinho escorra p'las gargantas
E a festa dure até às tantas

Que venham todos de vontade
Sem se lembraram de saudade
Venham os novos e os velhos
Mas que nenhum me dê conselhos


Autor: José Niza
Compositor: José Calvário
Intérprete: Carlos Mendes (na foto)

Braga 3 - Benfica 2



Demasiadas coisas a correr mal para se poder esperar resultado melhor, principalmente a forma física que seria de esperar a um nível muito superior.

Mas enfim, o que lá vai lá vai, e o que é preciso é ganhar hoje ao Lille, quanto mais não seja porque foi contra o Lille que, há umas semanas, se deu um pontapé nos maus resultados e se arrancou para uma série de boas exibições.

Seja como for, faltam 23 jornadas para sermos bi-campeões.

18 novembro 2005

Engenheiros

Perante meio copo de vinho:

Pessimista: O copo está meio vazio
Optimista: O copo está meio cheio
Engenheiro: O copo tem o dobro do tamanho necessário

As canções da minha vida - 3



Esta é uma daquelas que nos entra à primeira e nunca mais sai.

De resto, parece que voltou a estar na moda. Já se ouve novamente com frequência na Rádio.

O que há de verdadeiramente extraordinário acerca desta música é que, no festival da Canção de 1971 ficou em 3º lugar com apenas 42 dos 270 pontos em disputa (cada um dos 18 distritos tinha à sua disposição um total de 15 pontos para distribuir livremente pelas 9 canções).

A canção vencedora nesse ano foi "Menina" do mesmo autor (interpretada por Tonicha) e a canção classificada em segundo lugar foi "Flor sem tempo" (interpretada por Paulo de Carvalho).

Já viram isto? Não me lembro de nenhuma canção do Festival dos últimos dez anos, e do de 1971 são "só" aquelas três.


CAVALO À SOLTA

Minha laranja amarga e doce, meu poema,
feito de gomos de saudade, minha pena
pesada e leve, secreta e pura,
minha passagem para o breve,
breve instante da loucura.

Minha ousadia, meu galope, minha rédea,
meu potro doido, minha chama, minha réstea
de luz intensa, de voz aberta,
minha denúncia do que pensa,
do que sente a gente certa.

Em ti respiro, em ti eu provo
por ti consigo esta força que de novo
em ti persigo, em ti percorro,
cavalo à solta pela margem do teu corpo.

Minha alegria, minha amargura,
minha coragem de correr contra a ternura.

Minha laranja amarga e doce, minha espada,
poema feito de dois gumes: tudo ou nada.
Por ti renego, por ti aceito
este corcel que não sossego
à desfilada no meu peito.

Por isso digo: canção, castigo,
amêndoa, travo, corpo, alma, amante, amigo.
Por isso canto, por isso digo:
alpendre, casa, cama arca do meu trigo.

Minha alegria, minha amargura,
minha coragem de correr contra a ternura.
Minha ousadia, minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.



Autor: José Carlos Ary dos Santos
Compositor e Intérprete: Fernado Tordo

17 novembro 2005

Como escrever em bom português

Escrever bem não é fácil. Aqui vão umas dicas para quem queira dedicar-se a aperfeiçoar essa arte.

  • evita abrevs., etc.

  • anula aliterações altamente abusivas

  • não te esqueças das maiúsculas, como já dizia margarida leon, minha professora no liceu passos manuel, em lisboa

  • evita lugares-comuns como o diabo foge da cruz

  • o uso de parêntesis (mesmo quando for relevante) é desnecessário

  • estrangeirismos estão out, palavras de origem portuguesa estão in

  • sê selectivo no emprego da gíria, meu, mesmo que seja bacana, topas?

  • nunca generalizes; generalizar é sempre um erro

  • evita repetir a mesma palavra, pois a palavra vai ficar repetitiva; a repetição vai fazer com que a palavra seja sucessivamente repetida

  • não abuses das citações; como já dizia o meu tio: "quem cita os outros não tem ideias próprias"

  • frases incompletas podem causar

  • não sejas redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes, isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez. Por outras palavras, não repitas várias vezes a mesma ideia

  • sê mais ou menos específico

  • a voz passiva deve ser evitada

  • usa a pontuação correctamente o ponto e vírgula especialmente será que já ninguém o ponto de interrogação

  • quem precisa de perguntas retóricas?

  • nunca uses siglas desconhecidas como recomenda a U. F. T. P.

  • exagerar é cem milhões de vezes pior do que ser moderado

  • analogias na escrita são tão úteis como chifres numa galinha

  • não abuses das exclamações! O texto fica horrível! A sério!

  • evita frases exagradamente longas, por dificultarem a compreensão da ideia contida nelas e, concomitantemente, por conterem mais de uma ideia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível forçando, desta forma, o pobre leitor a separá-la nas suas diversas componentes, de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria, afinal de contas, fazer parte do processo de leitura, hábito que devemos estimular através da utilização de frases mais curtas

  • cuidado com a orthographia

  • sê incisivo e coerente... ou talvez seja melhor não... que se lixe

As canções da minha vida - 2


Eu tinha 8 anos quando se deu a Revolução dos Cravos.

É natural, portanto, que tenha retido muito pouco das politiquices da altura (e daí, talvez até tenha retido mais do pensava, mas hoje em dia, com tantos documentários e reposições, já tenho dificuldades em distinguir memória genuína de memória auxiliada por recordações posteriores).

Mas algo foi ficando ao longo dos tempos: a música de intervenção. Lembro-me até de, quando passava as férias de Verão na província, termos (eu, o meu irmão e alguns nativos) pertencido a uma "banda" (as aspas aqui deviam ser a triplicar) que usava como instrumentos umas guitarras feitas com umas ripas de madeira e fios de nylon (que davam todos o mesmo som) e uma bateria feita de panelas velhas e tampas de tachos.

O detalhe mais delicioso de que me lembro é o do microfone. Lembram-se daqueles desodorizantes em stick chamados Lander? O desodorizante estava dentro de um tubo de plástico que se retirava de dentro do frasco (muitos adultos desse tempo guardavam um destes frascos de vidro para guardar as lâminas da barba Schick ou Nacett e, assim, não terem que as colocar junto ao lixo comum. Esse tubo de plástico servia de microfone.

E o que cantávamos? Música de intervenção; coisas como "O povo unido nunca mais será vencido", "Grândola, vila morena", etc.

Mas a canção rainha entre nós nesse tempo era a que agora partilho convosco, e de cuja letra continuo a lembrar-me integralmente.

SOMOS LIVRES (UMA GAIVOTA VOAVA, VOAVA)

Ontem apenas
fomos a voz sufocada
de um povo a dizer não quero
fomos os bobos do rei
mastigando desespero

Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que à força
ultrajaram e venderam
esta terra hoje nossa
esta terra hoje nossa

Uma gaivota voava, voava
asas de vento, coração de mar
Como ela somos livres
somos livres de voar

Uma papoila crescia, crescia
grito vermelho num campo qualquer
Como ela somos livres
somos livres de crescer

Uma criança dizia, dizia
"Quando for grande não vou combater"
Como ela somos livres
somos livres de dizer

Somos um povo que cerra fileiras
parte à conquista do pão e da paz
Somos livres, somos livres
não voltaremos atrás



Autora, Compositora e Intérprete: Ermelinda Duarte (não consegui arranjar foto)

16 novembro 2005

Momento Monty Python - 3



Tourist: Those are sheep, aren't they?
Shepherd: Yeh.
Tourist: Hmm, thought they were. Only, what are they doing up in the trees?
Shepherd: A fair question and one that in recent weeks has been much on my mind. It´s my considered opinion that they're nestin'.
Tourist: Nesting?
Shepherd: Aye.
Tourist: Like birds?
Shepherd: Exactly. It's my belief that these sheep are labourin' under the misapprehension that they're birds. Observe their be'aviour. Take for a start the sheeps' tendency to hop about the field on their be'ind legs. Now witness their attempts to fly from tree to tree. Notice that they do not so much fly as... plummet.
Tourist: Yes, but why do they think they're birds?
Shepherd: Another fair question. One thing is for sure, the sheep is not a creature of the air.They have enormous difficulty in the comparatively simple act of perchin'. Trouble is, sheep are very dim. Once they get an idea in their 'eads, there's no shiftin' it.
Tourist: But where did they get the idea?
Shepherd: From Harold. He's the most dangereous of creatures, a clever sheep. He's realized that a sheep's life consists of standin' around for a few months and then bein' eaten. And that's a depressing prospect for an ambitious sheep.
Tourist: Well, why don't you just remove Harold?
Shepherd: Because of the enormous commercial possibilities if he succeeds.

As canções da minha vida - 1



Parece que há uma lei que diz que em todos os Blogs deve aparecer de vez em quando uma letra de uma canção, daquelas que põem os leitores a pensar: "Sim, senhor, o tipo é um intelectual, e tal...".

Não vou fazer isso aqui. Quer dizer, vou cumprir a lei, mas não é meu objectivo escolher apenas as canções cuja letra tenha que dar cabo da cabeça aos 2,1 leitores do Blog.

E para começar, nada melhor do que uma canção da qual praticamente já nem me lembro, mas que me dizem que eu cantava em miúdo por toda a parte, sendo por isso detentora do direito de inauguração da rúbrica.

Foi a canção vencedora do Festival RTP da Canção em 1970 (tinha eu 4 anos).

E reza assim:


ONDE VAIS RIO QUE EU CANTO

Onde vais rio que eu canto
Quero ver teu novo norte
Há no cais p'ra onde vais
Mãos de vida não de morte

Vai no mar barco à vela
Vai de paz se abastecer
Mais além... barco veleiro
Flor de vida vai colher

Onde vais rio que eu canto
Nova luz já se alumia
Lá no cais p'ra onde vais
Nasce amor dia após dia

Voa, voa, ó gavião
Sobre o mar do teu senhor
Que no cais p'ra onde vais
Não há raiva, mas amor.



Autor:
Joaquim Pedro Gonçalves

Compositor: Nóbrega e Sousa
Intérprete: Sérgio Borges (na foto)

14 novembro 2005

Alguém me explica?



Houve algo na Procissão de Sábado em Lisboa que não me entrou na cabeça.

Por um lado, as pessoas rezavam e manifestavam confiança em Nossa Senhora de Fátima.

Por outro, acenavam à sua passagem com lenços brancos.

Posso estar demasiado embrenhado no mundo do futebol, mas acho que as duas coisas são incompatíveis.

09 novembro 2005

Momento Monty Python - 2


A Epifania segundo "A Vida de Brian".

Nota: WM - Wise Man (Mago); Mandy - Mãe de Brian, confundido com Jesus (para as três pessoas que ainda não viram o filme).

Mandy: Who are you?
WM 1: We are three wise men.
WM 2: We are astrologers. We have come from the East.
Mandy: Is this some kind of joke?
WM 1: We wish to praise the infant.
WM 2: We must pay homage to him.
Mandy: Homage! You're all drunk you are. It's disgusting. Out, out.
WM 1: No, no. We must see him.
Mandy: Go and praise someone else's brat, go on.
WM 1: We have brought presents.
Mandy: Out.
WM 2: Gold, frankincense, myrrh.
Mandy: Well, why didn't you say? He´s over here... Sorry, this place is a bit of a mess. What sign is he?
WM 1: Capricorn.
Mandy: Capricorn, what are they like?
WM 2: He is the son of God, our Messiah.
WM 1: King of the Jews.
Mandy: And that's Capricorn, is it?
WM 3: No, no, that's just him.
Mandy: Do you do a lot of this, then?
WM 1: What?
Mandy: This praising.
WM 2: No, no.
Mandy: Well, if you're dropping by again do pop in. And thanks a lot for the gold and frankincense... don't worry too much about the myrrh next time.

Mandy: Well, weren't they nice... out of their bloody minds, but still...

Não batam mais no ceguinho - Parte 2


Já estou um bocado farto do que se vai dizendo acerca do golo não validado da União de Leiria em Alvalade.

Se tivermos em conta que os melhores jogadores em campo cometem vários erros durante um jogo e os adeptos lá vão aceitando a coisa menos mal (uma grande penalidade falhada pelo Simão ou um golo falhado de baliza aberta pelo Nuno Gomes só afecta os adeptos no momento) e a seguir compararmos os salários destes com os dos árbitros, facilmente se conclui que só não falha quem lá não está e que os jogadores têm muito mais obrigação de fazer tudo bem do que os árbitros, que no dia seguinte vão trabalhar para o Banco ou para os Correios para ganhar boa parte do seu sustento.

E como os adeptos (que já o são mais através da televisão do que da presença nos estádios) às vezes só conseguem tirar uma conclusão definitiva após a quadragésima nona repetição ao "ralenti" (a que o árbitro não tem acesso no momento) o melhor que têm a fazer é estar calados.

Ainda bem que isto aconteceu em Alvalade, porque se tivesse sido na Luz (ou Nova Luz) eu não poderia estar aqui calmamente a escrever isto.

Claro que algumas situações confusas têm solução. Por exemplo, se uma simulação de falta dentro ou perto da área, após comprovada por imagens, desse direito a uma suspensão por quatro jogos, de certeza que os árbitros nunca falhavam na marcação desse tipo de faltas, porque ninguém simulava, restando apenas por assinalar faltas genuínas.

Mas gostavam que fosse assim?

A verdade é que, nas actuais circunstâncias, todos ganham. No dia seguinte quem ganhou está contente e quem perdeu pode sempre dizer: "Se não fosse o árbitro, nós tínhamos ganho".

E cá vamos vivendo.

Não batam mais no ceguinho - Parte 1


Parece que toda a gente tem muita vontade de ver o presidente do Benfica (ou Sporisboaibeific, como pronuncia o próprio) abandonar o cargo por o Benfica não ter os 300,000 sócios que ele exigia.

Tenham juízo. O Benfica tem neste momento (renumerações efectuadas) cerca de 155,000 sócios. Antes da campanha tinha menos sócios que o Sporting.

Na prática, a campanha (agora substituida por outra, com iguais objectivos) trouxe ao Benfica algumas dezenas de milhar de novos sócios.

Até pode ser que, daqui a meia dúzia de semanas, os mesmos já não queiram ser sócios, mas o pastel já entrou.

Sejamos justos: foi bom para o clube.

Pessoalmente, não gosto do senhor Luis Filipe Vieira por cerca de vinte razões diferentes que não vêm agora ao caso, mas é confortável para mim saber que mais cedo ou mais tarde, ele acaba por ir embora e isso não me afecta nada.

Prefiro isso e um título aqui e acolá do que ter no cargo um indivíduo com toneladas de categoria, que me deixa arrepiado de cada vez que parece querer ir embora.

08 novembro 2005

Momento Monty Python - 1



1: What´s that on top of the telly-vision set?

2: Looks like a penguin.

1: What´s it doin' there?

2: It's sittin'.

1: I can see that! I meant, why's it there?

2: I don't know.

1: Where'd it come from?

2: Well, it must have come from the zoo.

1: It can't have come from the zoo. If it had come from the zoo it would have "Property of the zoo" stamped on it.

2: They don't stamp animals "Property of the zoo"! You can't stamp a huge lion.

1: They stamp them when they're small...

Mais um mito que se afunda


No domingo passado fui com a família comer Cozido à Portuguesa a um restaurante lá da rua.

A certa altura, sentou-se ao nosso lado nada mais nada menos do que o candidato Jerónimo de Sousa, acompanhado de dois camaradas (dele).

Fiquei curioso por ver o que iriam pedir, pois eu já tinha visto a lista e a mesma não incluía criancinhas estufadas.

Desilusão. Os comunistas comem Cozido à Portuguesa como nós.

Benfica 2 - Rio Ave 2


Quase podia fazer-se um Blog inteiro só à custa dos erros do árbitro neste jogo.

Foram tantos, que nem é possível elencá-los.

Não estou convencido da existência das duas faltas que deram origem aos golos do Benfica, como não estou convencido de grande parte dos foras de jogo apontados a Leo e a Nuno Gomes em jogadas de golo iminente.

O fora de jogo no segundo golo do Rio Ave existiu, mas depois do que referi acima, o melhor é nem ir por aí.

Mas os erros existem, neste e noutros jogos, e quem não souber viver com eles faz melhor em só ver futebol na Playstation.

O período de defeso que se inicia, e que proporcionará o regresso de Quim e Simão (e talvez Miccoli) veio na altura certa.

Faltam 24 jornadas para sermos bi-campeões.

Benfica 0 - Villareal 1


Não há milagres.

Quem se convenceu de que, com um jogo bem conseguido, Rui Nereu tinha agarrado lugar na equipa principal, enganou-se.

Enganou-se porque tinha mesmo que se enganar, já que não é possível pegar num pequenote e transformá-lo em guarda-redes do Benfica em meia hora.

Neste jogo, viu-se que o que tem que ser tem muita força. O golo sofrido é um autêntico frango (Rui Nereu viu a bola partir e fez-se ao lance a tempo, mas mal).

Mas também não é preciso crucificar o garoto. Deu o que tinha para dar.

O que custa a engolir é o momento do golo. Depois de uma primeira parte em que o Villareal dominou, o Benfica conseguiu crescer muito na segunda parte, e é justamente quando está por cima que sofre o golo.

Paciência.

A Liga dos Campeões não é um objectivo (quem disser que é ou mente ou é louco) e o próximo jogo com o Lille decide tudo - se vencermos está tudo bem; se empatarmos ou perdermos, ficamos em último no grupo, mas está tudo bem na mesma.

Mas cá no burgo, faltam 25 jornadas para sermos bi-campeões.

Naval 1 - Benfica 1


Pois é, se não fosse este rapaz, lá passávamos uma vergonha das antigas (bem, não são assim tão antigas, se nos lembrarmos do Gil Vicente).

Achei sobretudo que o Benfica apresentou uma forma física apreciável, dado o domínio que conseguiu manter apesar do campo empapado.

Não valem os argumentos do excesso de jogos (era o que faltava argumentar a este nível quando se trata da Naval) e do golo da Naval precedido de fora de jogo (já marcámos golos com foras de jogo não assinalados).

A única coisa que faltou foi uma equipa ligeiramente mais ambiciosa, já que era um jogo em que era obrigatório fazer três pontos.

Mas enfim, faltam 25 jornadas para sermos bi-campeões.

Bolas, isto está mesmo atrasado...

Pois é, férias são férias, até mesmo de Blogger.

Durante a semana passada foi pousio absoluto.

Entretanto, o Benfica fez três jogos e não ganhou nenhum. Mas a caminhada é imparável.

Os próximos três posts serão a respeito desses jogos.